No final do primeiro turno destas eleições, o Brasil foi varrido por uma onda conservadora e Bolsonaro quase ganhou. Mas não ganhou! O segundo turno, como dizem os analistas, é uma nova eleição: tudo é possível.
Certo, o capitão está na frente, ganhou em muitos estados, fez eleger inúmeros políticos. Mas não teve de se expor publicamente, não participou de nenhum debate, apenas deu entrevistas, sem ser pressionado a tomar posições claras.
Agora, além de se expor todos os dias na propaganda eleitoral, terá de enfrentar o adversário em debates públicos. Terá de dizer qual é o seu programa de governo, o que pretende fazer na economia, na saúde, na educação, no transporte: sobre isso, ele nada disse até o presente momento.
Em suas falas, há temas que se repetem:
– sobre regimes políticos: é a favor da ditadura militar e da tortura (“O erro da ditadura foi torturar e não matar”);
– sobre segurança pública: vai liberar armas para os “homens de bem” e vai liberar a polícia para matar;
– sobre corrupção: vai acabar com os corruptos, é contra “tudo aquilo que está lá”, vai acabar com o PT (“vamos fuzilar esta petralhada [aqui do Acre]”).
– sobre mulheres: já há na internet coleções de frases que expressam uma visão discriminatória e desconsideração em relação a seus direitos. Não é sem razão que o maior movimento de oposição a Bolsonaro nasceu das mulheres e inundou as ruas de mais de 200 cidades: #EleNao.
– ao final do primeiro turno, declarou: “vamos botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil” – afirmação grave, pois parece se referir a qualquer iniciativa coletiva de protesto ou reivindicação em nossa sociedade.
Em outras palavras, suas falas não só não aprofundam como nada explicam sobre como vai governar, que políticas vai desenvolver. Agora, no segundo turno, ele será obrigado a explicar, para toda a população e não apenas para seus apoiadores.
Por seu lado, Fernando Haddad agora não é mais o candidato do PT: ele é o candidato da democracia contra a barbárie, é o candidato da defesa dos direitos e das liberdades contra a imposição da violência, da intolerância e do desrespeito às mulheres, gays, LGBTI, negros.
Ele não pode mais defender o programa de um partido, ele tem de defender o regime democrático, que está em risco. Para poder ganhar esta eleição, ele tem de se abrir às preocupações de outros setores democráticos, da esquerda, do centro e mesmo da direita. Porque há setores da direita que estão seriamente preocupados com a volta da ditadura e têm de ser convencidos que Haddad tem autonomia e vai ser capaz de liderar esta campanha.
Não se trata de abandonar convicções, nem de fazer alianças tão amplas que desfigurem seu projeto de nação: o ponto de partida é a defesa dos direitos e das liberdades, de oposição à intolerância e à violência, de respeito aos processos democráticos.
Mas é preciso ter sabedoria para incorporar questões que não estavam no programa original, para poder angariar o apoio de todos os que possam se somar na defesa da democracia, contra o autoritarismo, da liberdade, contra a opressão, da dignidade da pessoa humana, contra o arbítrio.
Se Fernando Haddad for o representante, não apenas do PT, mas do campo democrático, ele poderá levar o povo à vitória.
Foto: Sul21.com